quinta-feira, 1 de setembro de 2011

As ultimas palavras


          

           Um senhor de certa idade chamado Adamastor estava em seu apartamento sozinho quando de repente sentiu uma forte dor no peito, seu coração começou a acelerar e a dificuldade em respirar era grande. Sentou em seu sofá e sabia que seu fim estava próximo, porém não sentia medo na verdade outro sentimento o incomodava era o do arrependimento, não sabia o motivo desse sentimento até que sua mente o levou para muitos anos atrás.

            Ele se viu em seu quarto provavelmente entre cinco ou seis anos fazia tanto tempo que não tinha tanta certeza de sua idade, ele escutou passos na direção do seu quarto, rapidamente apagou a luz e correu para sua cama, virou para o lado da parede e fechou os olhos como se tivesse dormindo profundamente. A porta se abriu bem devagar era sua mãe que tinha acabado de chegar do seu serviço de dez horas e mesmo muito cansada só queria saber como foi o dia do seu filho tão amado, mas ao ver o pequeno naquele sono tão gostoso abriu um sorriso e em um sussurro ela disse bem devagar “EU TE AMO”. O menino abriu os olhos ainda virado para parede ameaçou dizer algo, mas a vergonha era maior e simplesmente fechou os olhos e tentou realmente dormir.

            Em uma fração de segundos a mente do velho o leva para alguns anos a frente, ele estava no colegial, do jeito discreto e tímido só tinha duas pessoas que realmente considerava seus amigos, seu vizinho que conhecia da época que ainda engatinhava e aquela menina tão linda de olhos alegres e sorriso lindo, que sempre que chegava a sala iluminava seu coração, mas aquele jovem de poucas palavras não conseguia ter coragem de se declarar e simplesmente acreditou que seu sentimento não era platônico e sim de uma forte amizade.

            Um belo dia o destino com suas pegadinhas parecia querer brincar com os sentimentos do rapaz, e sua bela amiga e o amigo inseparável começaram a namorar, por fora o garoto mostrava um sorriso de aprovação do relacionamento dos dois, mas por dentro aquilo o quebrara de uma forma tão grande e o fazia pensar, será que se ele tivesse criado coragem de se declarar seria ele ali no lugar do seu companheiro?

            A vida passa em um piscar de olho, e o casal de namorados cresceu e cada vez mais apaixonados resolveram se casar, e adivinha quem foi o padrinho do noivo? Pois é coitado do Adamastor que agora já era um homem, do dia em que perdeu sua amada até o dia do casamento, ele teve muitos amores, mas amores rápidos de uma noite, de uma cama, seu verdadeiro amor estava ali no altar, mas não era para se casar com ele.

            O casal teve dois filhos e viveram dias felizes, nosso amigo também ou pelo menos acreditava que era feliz, só que ali estava o terrível destino de novo que não se cansa de brincar com os sentimentos das pessoas, e o marido descobriu que tinha uma doença grave que de certo não sobreviveria, contou tudo a seu melhor amigo, e pediu que quando fosse embora desse mundo que cuidasse de sua esposa e seus filhos, também disse do carinho e respeito que tinha por seu fiel amigo, agradeceu pela presença em todos esses anos e desejou tudo do melhor para o companheiro.

            Três meses depois a morte chegou e levou o marido, no enterro Adamastor olhou para o caixão do amigo sendo coberto de terra e lembrou que já mais tinha dito o quanto também admirava e invejava a vida do que ali não estava mais, olhou para sua amiga que mesmo depois dos anos passados, os filhos que teve, continuava linda mesmo em meio de tantas lagrimas, queria dar consolo a mulher, mas não achava palavras nem atitudes para isso e assim foi até o final do enterro. A viúva por não suporta as lembranças do finado e ainda tão amado marido, mudou para outro estado, para tentar superar e ter forças de sozinha criar seus filhos, e Adamastor nunca mais teve noticias de sua eterna amada.

            Voltando para o presente em seus momentos finais, o velho sentia uma forte dor no coração, mas não era por causa do ataque cardíaco que estava tendo e sim da tristeza e arrependimentos que teve em sua vida, as três pessoas mais importantes em sua vida foram embora e ele nunca criou coragem para dizer quanto tinha de amor, se importava e sentia a falta delas. A vontade de ter vivido mais, arriscado mais, mas agora era tarde para isso, sentia que tinha passado sua vida inteira como coadjuvante e que não tinha sua própria história de vida e sim viveu as histórias de outros. Sentia seu coração cada vez mais devagar, já não conseguia nem ficar de olhos abertos e conforme tudo ficava escuro só conseguiu dizer uma ultima coisa, EU AMO VOCÊS...